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20 de junho de 2018Projeto da agência Coletiva, de São Paulo, possibilita a coleta seletiva de 100% dos resíduos sólidos gerados em dez aeroportos da Infraero. A iniciativa, sem custo, ainda gera receitas para a estatal, que se aproveita de um conceito que já atrai grandes companhias do mundo inteiro: a economia circular
Os dez mais movimentados aeroportos administrados pela Infraero recebem, por mês, cerca de cinco milhões de pessoas, entre passageiros, tripulações e prestadores de serviços. Considerando que uma pessoa normal produz, em média, cerca de 30 quilos de resíduos sólidos por mês, dá para imaginar a quantidade de lixo que é gerada quando elas viajam. Desde o início do ano, dar uma destinação adequada a esse tipo de resíduo passou a ser uma obrigação da companhia estatal. Isso porque começou a vigorar a Lei Federal 12.305/10, que estabelece parâmetros para o descarte de lixo reciclável por todas as corporações, públicas ou privadas.
No caso da Infraero, seria necessário separar 45 toneladas de resíduos, correspondentes aos meses de novembro e dezembro, considerando o período imediatamente anterior à entrada em vigor da lei. Um projeto desenvolvido pela empresa paulista Coletiva, especializada em sustentabilidade, garantiu o cumprimento da meta, sem custo. Em algum tempo, inclusive, a Infraero poderá até gerar receita com o lixo, trazido voluntariamente pelos usuários de seus aeroportos. A companhia instalou 989 coletores equipados com painéis publicitários nos aeroportos de Recife, Fortaleza, Salvador, Cuiabá, Manaus, Curitiba, Porto Alegre e nos aeroportos da Pampulha, em Belo Horizonte, Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e de Congonhas, em São Paulo.
O material coletado é enviado a 16 cooperativas de reciclagem que participam da iniciativa. “Chamamos esse tipo de projeto de ganha, ganha, ganha”, afirma Diego Gomes Martins, presidente da Coletiva. “Ganha a Infraero, que se enquadra na lei sem custo, ganha a sociedade, graças ao destino correto do lixo, e ganham as empresas que decidem associar suas marcas à iniciativa.” Isso é possível por meio dos painéis publicitários que acompanham os coletores, instalados em locais estratégicos dos aeroportos. A parceria entre Infraero e Coletiva, firmada por meio de uma licitação, vale até 2024.
Esse tipo de projeto vem atraindo um número cada vez maior de empresas, e não só por conta da força das leis. A própria Coletiva tem entre seus clientes companhias do porte da Shell, Pepsi, Heineken e Citibank. Tratando-se de reciclagem, a reutilização de materiais deu origem a um novo conceito no mundo dos negócios, o de “economia circular”. Trata-se de um modelo que propõe a quebra de um paradigma, abandonando a linearidade das linhas de produção, baseadas na ideia de extrair, produzir e descartar, substituindo-a pelo conceito de renovação, tanto energética quanto de materiais.
Através do design, os seguidores do modelo acreditam que podem praticamente zerar a produção de resíduos. “O sistema em que vivemos, atualmente, não é pensado para funcionar no longo prazo”, afirma a velejadora britânica Ellen MacArthur, criadora de uma fundação, que leva seu nome, voltada para difundir a economia circular. A entidade estima que, com a adoção do conceito, os países europeus poderiam economizar até 4% do PIB do continente, o equivalente a cerca de € 480 bilhões. Segundo o estudo, os bens de consumo respondem por 60% dos gastos dos consumidores, 35% dos insumos materiais e 75% dos resíduos urbanos.
A fundação Ellen MacArthur já conta com o apoio de mais de 90 grandes organizações. Entre elas, gigantes como Apple, Coca-Cola, DHL, HP, Philips, Renault e Unilever. No Brasil, há um grande potencial para a economia circular. Somente na região metropolitana de São Paulo, são geradas 20 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Apenas 1,6% desse lixo é reaproveitado. A quantidade de materiais potencialmente recicláveis no Estado supera as 12 mil toneladas por dia. “Sustentabilidade não é mais uma questão de escolha”, afirma Martins, da Coletiva. “É necessidade.” E, por que não, também uma oportunidade de fazer novos negócios.